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A Nova Era da Sustentabilidade e o Futuro do ESG

O conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance) tem transformado o mundo corporativo, impulsionando empresas a adotar práticas sustentáveis e éticas que vão além do lucro imediato. Onara Lima, uma das principais executivas de ESG no Brasil, traz uma visão abrangente e estratégica sobre o futuro da sustentabilidade nas empresas.

Confira as principais tendências e desafios do ESG, desde a adaptação corporativa até a importância de uma gestão eficaz dos recursos naturais.

A Origem do ESG e o Triple Bottom Line

Onara traça o caminho do ESG desde o relatório “Who Cares Wins,” que, em 2004, estabeleceu as bases para incorporar fatores ambientais e sociais na avaliação de investimentos financeiros. Ela observa que o conceito de Triple Bottom Line, criado por John Elkington, foi crucial para esta jornada, pois introduziu os pilares People, Planet e Profit. No passado “a sustentabilidade focava mais em People e Planet”, mas “agora o Profit também faz parte da discussão”, explica Onara.

Frameworks de Sustentabilidade e Normas Internacionais

Com a adoção de normas internacionais, como o IFRS S1 e S2, que orientam a divulgação de informações sobre sustentabilidade e questões climáticas, as empresas estão sendo incentivadas a incorporar práticas sustentáveis de forma mais estratégica e transparente.

Além disso, existem frameworks que fornecem diretrizes específicas para cada setor. Isso ajuda empresas a relatar riscos e oportunidades relacionadas ao clima de maneira consistente e comparável. Por exemplo, a TCFD, criada pelo Conselho de Estabilidade Financeira, oferece recomendações para divulgar informações financeiras relacionadas ao clima, auxiliando empresas a fornecer dados consistentes sobre riscos e oportunidades climáticas.

A Realidade do ESG nas Empresas Brasileiras

Ao discutir a realidade do ESG no Brasil, Eden Paz, questiona se as práticas ESG são realmente priorizadas pelas empresas ou se ainda são vistas como uma “obrigação” ou “modismo”. Onara destaca que, apesar de avanços em alguns setores, o discurso sobre ESG nas empresas brasileiras frequentemente não se traduz em práticas concretas. Ela aponta que muitos executivos enxergam a sustentabilidade como responsabilidade de um único departamento, quando, na verdade, exige uma integração profunda e uma mudança de mentalidade em toda a organização.

No entanto, com a influência crescente de controladores financeiros e normas como a IFRS, há uma mudança no nível de conversa, com empresas precisando responder a checklists e cobranças que vêm de grandes companhias e regulamentos europeus.

Onara enfatiza a importância de compreensão do custo-benefício das práticas ESG: “Tudo é custo, mas temos que entender o que ele entrega de resultado quando o processo é bem estruturado.” O processo educativo é crucial, e destaca que “nenhum profissional hoje pode se dar ao luxo de não estar constantemente estudando”.

ESG nas Pequenas e Médias Empresas: Adaptação e Desafios

Onara também menciona o papel das pequenas e médias empresas (PMEs) no avanço do ESG no Brasil. Embora representem 96% do mercado brasileiro, muitas PMEs ainda veem o ESG como algo distante, destinado apenas às grandes corporações. Ela acredita que a implementação de práticas ESG é viável e essencial para as PMEs, uma vez que sua sobrevivência e competitividade dependem de uma boa gestão de recursos naturais e práticas sustentáveis. Onara alerta que qualquer empresa, independentemente de seu tamanho, será afetada por esses pilares.

O Impacto da Tecnologia e da Inteligência Artificial no ESG

Para Onara, a adaptação à rápida evolução tecnológica é essencial, pois, segundo estudos, “vamos evoluir pelo mesmo período de 50 anos em 10 anos”. As empresas precisam entender que a sustentabilidade é eficiência operacional, e adaptar o tático ao estratégico é essencial para resultados eficazes.

A Inteligência Artificial (IA) é uma ferramenta promissora para melhorar a transparência e a rastreabilidade de práticas corporativas. Entretanto, a executiva adverte que o uso da IA pode acentuar desigualdades se o acesso à tecnologia não for democratizado. Onara menciona como o acesso desigual à tecnologia, assim como o aprendizado do inglês, pode contrastar com as necessidades crescentes de empresas digitalizadas.

ESG e Governança Corporativa no Brasil: Um Olhar para o Longo Prazo

No contexto brasileiro, onde muitos conselhos corporativos ainda estão focados em soluções de curto prazo, Onara reforça a importância de uma governança orientada para o futuro. Ela observa que muitos conselhos têm uma visão imediatista, enquanto deveriam estar atentos às tendências globais e às questões de sustentabilidade que vão afetar a empresa no longo prazo. “Conselho é farol alto,” explica, reforçando a necessidade de líderes que estejam prontos para antecipar desafios e desenvolver estratégias sustentáveis.

Onara enfatiza que a mudança de mentalidade dentro dos conselhos é essencial para o avanço do ESG, especialmente em um país como o Brasil, onde a riqueza dos recursos naturais exige uma abordagem responsável e estratégica. “Toda e qualquer riqueza sem gestão não gera resultado” comenta. A executiva enfatiza ainda a importância de antecipar tendências climáticas com base em dados científicos, como os relatórios do IPCC, e integrar essas informações nas matrizes de risco das empresas. “Precisamos acreditar mais nos dados científicos”.

Nesse contexto, Onara também comenta sobre os desafios encontrados ao lidar com lideranças que resistentes ao discurso ESG. Ela fala da importância de personalizar a comunicação para diferentes públicos, como conselhos ou C-levels. É preciso ajustar a linguagem para tratar de “dinheiro, riscos e gestão”. Mesmo assim, a resistência persiste e há uma necessidade de pressionar para que a cultura ESG seja incorporada no cotidiano corporativo, começando pela governança. Ela ressalta que “não existe empresa que é ESG” apenas por ter produtos ambientalmente positivos. A prática ESG deve ser integrada nos processos, e “se a governança é fragilizada, isso já muda a leitura para o social e o ambiental”.

A Responsabilidade das Empresas na Gestão dos Recursos Naturais

Eden expressa preocupação sobre os impactos ambientais no Brasil, um país rico em recursos naturais, mas que enfrenta desafios como queimadas, poluição e desmatamento. Ele menciona desastres como Brumadinho e Mariana, além de eventos recentes como enchentes no Rio Grande do Sul, destacando a aceleração dos impactos ambientais. “Parece estar havendo uma aceleração até maior do que a gente imaginava”, observa Eden. Então, ele questiona como distinguir entre ciclos naturais e má gestão, e qual o papel das empresas nesse cenário.

Para Onara, as empresas têm o dever de incluir o impacto ambiental e a sustentabilidade em suas operações diárias. Além disso, é preciso considerar os riscos globais, como pandemias e guerras, e a interdependência global nas cadeias de suprimentos. A executiva relata que as empresas focam na gestão da cadeia de valor externa onde têm menos controle direto. Entretanto, “o que que eu estou fazendo para reverberar as minhas boas práticas sustentáveis dentro do meu processo?”, pergunta. Ela cita que as instituições financeiras têm uma cobrança com um olhar diferente, “onde a gente ainda não estava olhando de forma efetiva nem tendo padronização para entregar”.

Economia Circular: A Nova Fronteira da Sustentabilidade

Eden faz uma analogia entre curtos, médios e longos prazos com “os três horizontes da inovação”, ressaltando a importância de equilibrar investimentos para garantir a presença da empresa no futuro. Ele comenta sobre produtos percebidos como sustentáveis, como carros elétricos, destacando impactos negativos associados à produção e descarte de baterias. Onara concorda, observando que muitos produtos sustentáveis são “mais uma jogada comercial”. Além disso, ela menciona como o Brasil, rico em biocombustíveis, pode enfrentar barreiras comerciais ao adotar tecnologias externas como veículos elétricos.

A discussão avança sobre a necessidade de uma economia circular para lidar com o ciclo de vida completo dos produtos, citando o exemplo dos painéis solares. Onara critica a tendência de ver “superficialmente” as soluções sustentáveis. A executiva enfatiza que, em breve, as empresas sequer terão “acesso a capital” se não atenderem aos requisitos mínimos de sustentabilidade. Nesse contexto, Eden observa que a interdependência de recursos naturais influencia a competitividade do país. Onara acrescenta que muitos ainda não entenderam a extensão dessa interdependência, com o PIB sendo, segundo ela, “diretamente dependente de recursos naturais”.

Desafios Geracionais e Adaptação Corporativa às Novas Demandas de Sustentabilidade

Eden traz à tona a importância da adaptação geracional nas empresas, destacando o papel das questões sociais e de diversidade dentro do ESG. Onara complementa abordando os desafios educacionais no Brasil e aponta a resistência das empresas em aceitar as mudanças trazidas pelas novas gerações. “Enquanto vocês perderem energia discutindo o que é ou não a nova geração, vocês não estão tratando da questão em si” observa ela. Onara destaca que muitos compromissos ESG foram assumidos sem planos claros, o que levou a ajustes quando as metas se mostraram inatingíveis.

Eden sugere que os conselhos corporativos devem buscar um equilíbrio entre gerações, com a geração mais jovem traz uma visão “mais digital e menos analógica”. Porém, ressalta que também é necessário aprimorar a curadoria de dados para evitar decisões precipitadas. Onara reforça essa visão ao apontar que, apesar da grande quantidade de dados disponíveis, ainda falta a habilidade de interpretá-los e aplicá-los eficazmente nas decisões empresariais. Além disso, ela ressalta que a iminente transferência de riqueza para novas gerações torna urgente a adaptação às novas demandas dos consumidores.


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