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A comunicação no novo normal é anormal   

Nunca dependemos tanto da comunicação entre as pessoas como no ano de 2020. A pandemia do novo coronavírus pegou o mundo de surpresa, afastou o contato presencial e multiplicou a conexão pessoal, educacional, profissional e corporativa. Mesmo com uma vacinação em massa, as relações não serão mais como antes. O chamado novo normal é anormal porque a humanidade não estava preparada para tamanha mudança de comportamento. O desastre de milhões de vidas perdidas será a pior consequência, embora haja uma perda enorme na economia. O mundo dos negócios, porém, sempre abre uma oportunidade onde há uma crise e alerta para mudanças vitais principalmente nas empresas na área de Recursos Humanos.   

Se não existia um cenário preparado na área da saúde, nas empresas que tiveram que fechar as portas, nas pessoas que perderam o emprego, o mundo da tecnologia da informação estava engatilhado. No meio da pandemia, à medida que as pessoas se afastaram, ferramentas de conexão por áudio e vídeo, aplicativos, plataformas de armazenamento de dados, de comércio pela internet, de aulas on-line deram um salto gigantesco.  

 A empresa californiana Zoom Video Communications, fornecedora de serviços de videoconferência, teve aumento no faturamento de mais de 1000% só no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019. Chegou a apresentar problemas de segurança devido a uma demanda que jamais imaginou ter. As escolas tradicionais, os escritórios, as empresas de comunicação e o varejo passaram a se comunicar à distância. Quem iria imaginar que os jornalistas de rádio e TV iriam transmitir notícias de casa, que os médicos atenderiam por videochamada, que haveria somente audiências da justiça por conexões da internet.   

Todas estas possibilidades nas relações de trabalho já existiam, mas ainda era uma demanda reprimida. Tanto que os eventos esportivos e shows musicais seguiram acontecendo assim que foi possível estabelecer protocolos, mas sem público presencial. Só que milhões de pessoas seguiram assistindo de casa. Não há o calor humano, a temperatura do ambiente, nada é palpável, mas é possível acompanhar do sofá de casa. Aquele mundo do desenho animado dos Jetsons, com robôs e automação que parecia impossível nos anos 70/80 está aí.    

Não é normal, mas existem várias oportunidades de negócios como o streaming de vídeo que cada vez mais cresce para empresas e pessoas de qualquer tamanho. Jamais vimos tantas janelas de vídeo ao vivo nos smartphones, desktops, tablets, notebooks e aparelhos de TV. Da mesma forma, muitos setores foram potencializados como os mais úteis, os chamados essenciais, serviços públicos de limpeza, segurança, os supermercados e abastecimentos em geral, manutenção de veículos, combustíveis, farmácias, hospitais e serviços de saúde em geral.   

A grande mudança na comunicação que serve de alerta é nas corporações. A primeira é de que a relação de trabalho será diferente daqui para frente. Muitas empresas perceberam que algumas atividades não precisam mais ser presenciais. É mais econômico manter muita gente em teletrabalho ou de forma híbrida, ou seja, presencial e on-line em dias alternados. Há uma exigência nas regras das empresas e entra a importância do profissional do setor de RH.   

As pessoas estão trabalhando em casa onde elas invadem o próprio espaço, onde a família era só família. O homework só não pegou de surpresa os profissionais autônomos que também haviam percebido um caminho alternativo. Mas os profissionais das empresas, assim que voltaram para o seu habitat de trabalho, após um período de quarentena, estranharam o novo layout de distanciamento, avisos, protocolos, bandeiras, colegas de máscara, alguns sem. “Pode? Comemos aonde? Onde lavamos as mãos? Onde está o álcool em gel? Meu filho não tem como ir à escola que segue fechada, posso ficar em casa? O ônibus está lotado, vou me atrasar, mas eu serei descontado ou arrisco? O diretor está de quarentena e ninguém domina o assunto como ele daquela reunião, cancelamos?” Algumas coisas até são simples de se resolver, mas sem comunicação eficiente será sempre mais difícil.    

A comunicação interna da empresa precisa ser aprimorada e os profissionais de RH preparados para uma avalanche de dúvidas e insatisfações no curto prazo. Em prazos mais longos, será preciso aprimorar os treinamentos com cursos que ainda estão por surgir. Não é à toa que surge a formação para diretores da felicidade, Chief Happiness Officer, especialistas em potencializar o bem-estar das pessoas no trabalho.   

Nunca as soft skills foram tão testadas. As habilidades de resiliência, empatia, colaboração e comunicação são essenciais para a sobrevivência do ambiente corporativo com os nervos aflorados. Neste caso, talvez nem seja preciso uma pesquisa de clima. Melhor partir logo para o diálogo direto e permanente.   

O papel dos líderes também sofreu um impacto enorme. As reuniões, os comunicados e os feedbacks precisam ser eficientes no sentido de encorajar os colaboradores. O gestor precisa ter criatividade com as equipes para flexibilizar horários e fluxos de trabalho sem comprometer a produtividade. Será preciso se comunicar mais como ouvinte e com gestos, através das atitudes dando exemplo e fazendo parte do processo. Enfim, seja mandando um sinal de fumaça nos tempos primitivos ou uma mensagem por Whatsapp, a eficiência não está no canal, mas na mensagem. O novo normal é anormal, mas a comunicação não muda. Será sempre essencial.


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