A relação entre liderança e transformação organizacional nunca foi tão discutida como no cenário atual. Para refletir sobre um tema tão relevante quanto a importância da liderança humanizada, trazemos as valiosas contribuições de Alexandre da Costa Peixoto – CEO, Mentor, LinkedIn Top Voice, Conselheiro de Administração e especialista em desenvolvimento de líderes. Atualmente, é Superintendente do Sindilojas Porto Alegre, que representa mais de 18 mil lojistas.
Com uma carreira marcada pela paixão por pessoas e pela crença de que a liderança humanizada é o caminho para resultados duradouros, Alexandre foi recebido por Eden Paz e Ari Alexandre Pellicioli, sócios da ConsulPaz, para compartilhar sua expertise em inspirar e transformar equipes e organizações.
No início de sua trajetória na Gerdau, Peixoto ingressou como Trainee na área comercial. Posteriormente, migrou para a área de qualidade e, em seguida, assumiu a posição de gestor da fábrica de Porto Alegre. Antes dos anos 2000, uma mudança aparentemente simples trouxe um impacto significativo na forma de liderar: o título de “supervisor” foi substituído por “facilitador”. Apesar de ser apenas uma palavra, essa alteração teve um impacto profundo em sua compreensão sobre como liderar. Essa nova visão de liderança tornou-se um princípio que ele aplica até os dias de hoje.
Foi curioso porque, ao ser promovido a gestor, Peixoto tinha uma visão diferente de liderança. “Estávamos vindo de uma liderança bastante racional, objetiva e direta. Eu até fui ao RH na época, com uma certa ingenuidade, para saber: Por que fui escolhido para ocupar aquela função?” A resposta trouxe outra palavra que até então era novidade: “Você possui uma grande empatia”. Naquela época, o conceito de empatia ainda não era tão conhecido como é atualmente. Esse reconhecimento impactou profundamente Peixoto, que passou a moldar sua liderança com base nesse valor, adotando-o como princípio fundamental.
Mais tarde, Peixoto tornou-se facilitador de orçamento matricial, de BSC e de planejamento estratégico na Gerdau, posições que exigiam habilidades avançadas de negociação. Ele explica que, ao lidar com o orçamento de fábricas em todo o Brasil, era necessário negociar reduções e ajustes com os líderes de cada unidade. Peixoto comenta também sobre os chamados indicadores “puro sangue”, como eram referidos na Gerdau devido à sua relevância.
“Então, quando coloca essa palavra na frente: facilitador, melhora a relação com a tua equipe.”
Um detalhe interessante é que Peixoto descobriu uma importante lacuna em sua liderança ao fazer uma autoavaliação na empresa. O resultado apontava que ele praticava muito microgerenciamento, apesar de acreditar que era um líder que delegava e confiava em sua equipe. Inicialmente, ele não concordou com as informações e buscou validação de seu chefe e diretor. Porém, ao pedir que sua esposa lesse o relatório no caminho para casa, ela confirmou que a avaliação estava correta, descrevendo exatamente seu comportamento. “Eu percebi naquele momento que a gente não se conhece”, revela.
A partir dessa experiência, Peixoto mudou sua abordagem de liderança. O líder que antes fazia microgerenciamento passou a escrever os padrões operacionais junto com sua equipe e deu maior autonomia para todos.
“Era exatamente o que elas queriam e isso fez muita diferença em outros tipos de gestão. Eu pensava que eu tinha que saber de tudo, mas quanto mais a gente cresce mais a gente precisa largar o microgerenciamento.”
A Importância da Integração com o RH
Com o tempo, ainda na Gerdau, Alexandre Peixoto passou a trabalhar em fábricas que precisavam estabilizar processos, desde o clima organizacional até as operações. Ele destaca que sempre acreditou nas pessoas e que, em vez de demitir, buscava entender cada indivíduo para posicioná-los corretamente dentro da empresa. Para ele, ouvir os colaboradores é essencial para criar um ambiente onde se sintam à vontade para serem francos. “Uma escuta genuína”, afinal, o foco é alcançar resultados por meio dos colaboradores. De acordo com Alexandre, embora a empresa tenha bons equipamentos, são as pessoas que realmente operam. Na terceira fábrica, em meio aos desafios, quando a operação se estabilizou, ele percebeu que essa abordagem de liderança e compreensão das pessoas era essencial para o sucesso. “Isso é uma habilidade”, lembrou.
Ao explorar o perfil de cada líder, Eden Paz direciona a conversa para o papel do RH segundo a perspectiva de Peixoto, com base em sua experiência nos setores industrial, de serviços e varejo. Ele questiona como os líderes podem fortalecer a gestão de pessoas e impulsionar o desenvolvimento organizacional. Alexandre recorda que, no ano 2000, começou a estudar coaching, com foco em liderança e desenvolvimento de pessoas, refletindo uma mudança de perspectiva sobre o RH. Na época, o setor era visto apenas como responsável por tarefas operacionais, como gestão de folha de pagamento e desligamentos. Ele ressalta, no entanto, a importância da atuação do líder em todas as etapas, da contratação à demissão, mas sempre em parceria com o RH, que deve estar integrado às operações da empresa.
“Hoje, eu entendo que o RH faz parte da operação. Ele precisa estar dentro da sala de reunião.”
Dessa forma, o RH se torna um suporte no desenvolvimento das equipes, atuando como um mediador e promovendo o bem-estar organizacional. “Muitos líderes se preocupam quando o RH está dentro de uma sala por entender que está monitorando alguma coisa, mas na verdade ele está ali para ajudar “, esclarece.
O desafio da liderança é ainda maior em um cenário de constante evolução e transformação, com foco crescente nas pessoas, no impacto social e na diversidade, como reforça Ari Peliciolli. “Como essa liderança se desenvolve, busca aprender, para se transformar em uma liderança não só inspiradora mas também humanizada?”, questiona Ari. O primeiro ponto destacado por Alexandre Peixoto é gostar genuinamente de pessoas, estabelecer conexão direta e saber ouvir. Neste aspecto, a comunicação é fundamental. A ideia central é que o foco deve estar nas pessoas, não apenas nos clientes.
“Quando as pessoas se sentem valorizadas e felizes no ambiente de trabalho, isso se reflete no atendimento ao cliente, fazendo com que o cliente também se sinta importante.”
Esse princípio se aplica ao comércio, à indústria e a qualquer ambiente corporativo.
As Qualidades do Líder Que Foca nas Pessoas
Eden questiona sobre como o modelo de liderança humanizada pode impulsionar a inovação e a transformação tecnológica, criando, ao mesmo tempo, um ambiente onde as pessoas se sintam à vontade para experimentar novas ideias. É importante saber de que maneira Peixoto percebe essa nova abordagem da liderança e como o líder pode facilitar esse processo, levando a resultados diferentes e positivos. Peixoto enfatiza a importância da meritocracia e a vontade dos colaboradores de trabalhar em empresas de sucesso. Para isso, o líder deve promover uma conversa franca, criando um espaço onde a equipe possa apresentar erros e se expressar livremente. Peixoto argumenta que um líder que se limita a controlar apenas o que vê pode perder a visão mais ampla. Quando há essa abertura, a inovação acontece com mais facilidade e a adaptação às novas tecnologias se torna natural.
O perfil deste líder, mais voltado para as pessoas, possui algumas características e habilidades fundamentais. Segundo Peixoto, é preciso ter resiliência. ”Muitas vezes você quer fazer alguma coisa e não vai ter o retorno que esperava e não pode se frustrar porque a pessoa não quer. É algo natural dela”, explica. Por outro lado, é preciso ter autoconhecimento para saber quais habilidades você não domina para complementar com pessoas da equipe.
Outra habilidade relevante é a comunicação “porque o líder é a pessoa que passa a maior parte do tempo falando, comunicando, orientando, apresentando. Quer liderar? Vai estar na frente das câmeras ou das pessoas o tempo todo”. Por último, reforça que é necessário que o líder cuide da sua da marca pessoal porque as pessoas não olham mais só para a empresa, elas querem saber com quem vão trabalhar.
Houve um tempo, lembra Eden, que sucesso e ótimos resultados eram sinônimos de algo negativo no Brasil e na América Latina. Havia uma visão distorcida do lucro, algo que começa a mudar. Peixoto, como Top Voice do LinkedIn, se conecta diretamente com as pessoas em discussões neste sentido e percebe que a nova geração é muito mais competitiva. Além disso, ficou evidente que a marca pessoal é algo importante, principalmente, para compartilhar suas ideias.
Quando Peixoto e sua equipe criaram o Co.nectar Hub* de inovação no Sindilojas de Porto Alegre, ele foi ao Vale do Silício em 2022. Lá, ouviu uma frase que passou a fazer muito sentido para ele: “Servir não é se exibir”. Como sempre gostou de servir as pessoas e encara esta relação como uma troca, decidiu começar a escrever artigos em fevereiro de 2023 no LinkedIn. Em setembro, foi convidado pela plataforma para um curso de Creator e, em janeiro de 2024, tournou-se Top Voice, um influenciador de destaque na rede. “Eu falo sobre gestão e liderança humanizada que é o que as pessoas estão buscando”.
A busca por uma liderança humanizada também pode ser aplicada em empresas menores, com estruturas mais enxutas? É a provocação feita por Ari Peliciolli para que Peixoto traga dicas àqueles que são mais carentes de investimento.
“A primeira dica é criar esse ambiente seguro para trocas, porque feedback não tem custo, seja ele positivo ou apontando oportunidades.”
No entanto, esse ambiente precisa realmente ser seguro, permitindo diálogos que exponham não só erros e falhas, mas também decisões bem-sucedidas que fogem do padrão da empresa. O importante é que este processo se sustente em um ambiente transparente e que vai refletir positivamente no resultado.
A Necessidade de Cuidar da Saúde Mental no Ambiente de Trabalho
Mesmo em um ambiente mais transparente e seguro, a saúde mental ainda exige atenção especial. Eden Paz lembra que, atualmente, as relações de trabalho ocorrem em modelos presencial, remoto ou híbrido, o que pode aumentar a pressão e a intensidade no dia a dia. A carga horária pessoal e profissional se confunde e gera problemas como o burnout, um distúrbio emocional muito presente. “O problema de saúde mental sempre existiu, mas antes ninguém levava para o líder e aí não tratava”, afirma Peixoto que defende que o líder precisa estudar o tema e acolher as pessoas. “Eu agradeço a confiança de quem me traz um problema como este que precisa ser tratado e poucas pessoas fazem isso”.
Eden lembra de um caso, anos atrás, em que deu voz a uma pessoa que enfrentava dificuldades. Só o fato de ouvi-la e agradecer por ela ter se aberto já ajudou na sua superação e no retorno ao trabalho, após um período afastada. Ari também compartilha um exemplo mais recente, de uma empresa onde vários colaboradores puderam expor suas dificuldades em relação ao clima interno. O diálogo aberto tem ajudado a construir um ambiente melhor para todos – e, consequentemente, para a empresa.
“Hoje, com o uso da inteligência artificial, é possível perceber quando as pessoas descrevem em um texto o que elas estão pensando da empresa, se há algum problema com elas.”
Dessa forma, o líder pode identificar sinais de dificuldades mesmo quando os colaboradores continuam entregando resultados. Um líder mais humano se torna um catalisador da transformação das pessoas e do negócio, sem precisar ser o protagonista de tudo.
Líderes que buscam apenas reconhecimento para si, em vez de focar na equipe, tendem a se isolar no processo, dificultando a construção de um ambiente colaborativo. Peixoto ressalta que, embora o líder tenha um papel de destaque por tomar as principais decisões, o espírito de equipe deve estar acima de tudo, pois é o time que joga pela empresa. Para ele, a verdadeira liderança se reflete no sucesso coletivo, quando cada integrante da equipe consegue alcançar bons resultados.
Leia a nossa Revista:
Assista a entrevista na íntegra no Youtube:
Ouça no Spotify: